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terça-feira, 14 de setembro de 2021

O FEIJÃOZINHO SURDO • HISTÓRIA EM LIBRAS

"O livro está conectado com a experiência profissional da autora, cultivado em sala de aula, regado por sinais, textos e imagens, disponível à mesa de crianças brasileiras. A obra contribui na formação de uma biblioteca que registra o cotidiano de crianças surdas."


sexta-feira, 30 de maio de 2014

ASSUNTO DE HOMENS
Ridendo castigat mores
Crônica de Judith Nogueira.

Tenho uma dificuldade muito grande para ver criança sofrer. Todos nós temos o nosso ponto fraco, e esse é um dos meus. Nunca me incomodou atender quem quer que fosse, estivesse sujo, embriagado, malcheiroso, vomitado. Não tenho nojo do corpo humano e sempre me acostumei facilmente com esse aspecto menos glamouroso da nossa condição física.
Quando eu era ainda uma estudante do quinto e do sexto ano da faculdade de medicina, não me incomodava por fazer suturas na boca dos alcoolizados que caiam na rua e eram levados para o Pronto-Socorro. Alguns colegas ficavam espantados e diziam:
— Como é que você consegue aguentar esse hálito horroroso?
E eu sempre respondia:
— Meu olfato é péssimo! Quase não sinto o cheiro dessas coisas que enojam a maioria das pessoas. Duro mesmo seria trabalhar na pediatria! Aí, sim, seria sofrimento para mim.
Atender criança doente, com os pais sofrendo, ansiosos, é demais para mim, por isso nunca pensei em fazer especialização em pediatria. Sempre achei que criança nunca deveria ficar doente, que deveria ter uma idade mínima para isso, por exemplo, 18 anos.
Não que o sofrimento dos adultos seja aceitável, mas o das crianças me deixa para morrer, me desmonta. Aquelas criaturas tão pequenas, tão ignorantes da vida, tendo que lidar com situações de dor, de desconforto, de perda...
Curiosamente, mesmo evitando essa especialidade, as crianças acabam sempre por cruzar meu caminho profissional, como aconteceu há 25 anos, durante uma manhã de trabalho como médica residente de cirurgia. Nesse dia, quando cheguei para o plantão no Pronto-Socorro, meus colegas contaram sobre o menino de 12 anos que chegou à noite, com a mão e o antebraço direitos esmagados e ainda presos a uma máquina de moer carne. O garoto trabalhava em um açougue e sofreu o acidente lamentável. Como não foi possível aos bombeiros retirarem seu braço da máquina, levaram-no ainda preso ao moedor, que teve que ser retirado no centro cirúrgico, após a anestesia do menino.
A mão e parte do antebraço já estavam completamente destruídos pela trituração, de modo que não houve outro recurso senão concluir a amputação do membro já perdido.
Ainda sem ver o paciente, fiquei muito chocada com a história. Quando entrei no Centro Cirúrgico para uma outra operação, vi o garoto na sala de recuperação pós-anestésica, deitado na cama, com o coto do antebraço enfaixado e chorando muito. Estava assustado, chocado, arrasado, tudo junto. Não falei nada, pois não havia o que falar. Uma das funcionárias, no intuito de distrair o menino, fez um estúpido e grosseiro que eu me recuso a repetir aqui, embora me lembre de todas as suas palavras. Se a palavra é prata, o silêncio é ouro. Melhor não perder a chance de ficar de boca calada.
De qualquer modo, ele não era meu paciente e foi para uma enfermaria na qual eu não estava atuando naquele mês, mas a sua história não me saiu da cabeça, nem a imagem do seu choro desesperado naquela manhã terrível. Eu imaginava o que estaria pensando a respeito de seu futuro, se estava com medo, com vergonha. Dali para frente, sua vida seria diferente em vários aspectos, e que ninguém venha com conversas politicamente corretas de que a vida dele continua igual, de que pode se adaptar, que pode ser igual aos outros.
A adolescência já é suficientemente difícil para quem tem as duas mãos, os dois olhos, as duas pernas. A criança que está entrando na idade adulta ainda tem muitas inseguranças acerca da aparência, mesmo quando ela é perfeita!
Fiquei pensando como um segundo pode mudar completamente o curso futuro de nossas vidas. Para o garoto em questão, foi um segundo de distração e a vida toda sem mão.
Acompanhei o caso à distância, até que soube que o paciente tivera alta. Quis saber como ele estava quando saiu, se estava melhor, se chorou muito e assim por diante.
Meu colega de residência contou-me que ele estava com mais vergonha do que tristeza. Estava mais preocupado com os colegas de escola, temendo que rissem dele, que se tornasse alvo de caçoada. Naquele tempo ainda não usávamos a palavra Bulling, mas a coisa em si já existia, embora em menor proporção.
Fiquei muito triste por isso e perguntei qual foi a conduta do colega que deu a alta no sentido de amenizar a angústia do jovem. Para minha surpresa, meu colega apenas respondeu:
— Ele disse para o menino: “Não ligue, não. Se te zoarem você fala que perdeu a mão, mas não o pinto. O pinto tá aqui, ó!”
Durante alguns segundos eu fiquei horrorizada! E a ética médica? Onde já se viu falar assim com um paciente, ainda mais um menor? Perguntei qual foi a reação do garoto e meu colega informou que ele caiu na risada e foi embora sorrindo...
Fiquei perplexa. Lembrem-se que éramos todos jovens de vinte e poucos anos, eu ainda com questões rígidas acerca da ética e de como falar com o paciente. Lembrem-se também de que eu sou mulher e meus colegas são homens, assim como o paciente. Jamais passaria pela minha cabeça falar assim com alguém, mas às vezes só a seriedade e a compaixão não resolvem.
Há coisas que só as pessoas do mesmo sexo conseguem entender.
Até hoje, 25 anos depois, mesmo com toda a experiência que adquiri, creio que não saberia me sair tão bem de uma situação como aquela. Eu não saberia como falar com graça a um adolescente em tal situação. Se fosse uma mulher a falar aquilo, provavelmente ele ficaria muito constrangido.
Essa situação é um perfeito exemplo daquele ditado em latim, “Ridendo castigat mores”, que pode ser traduzido por “rindo mudamos os costumes”.

Só para terminar, ainda bem que somos tão diferentes. O que seria de nós sem os outros?

sábado, 24 de maio de 2014

18 Verdades cruéis sobre os relacionamentos modernos que você vai ter que encarar.

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1. Quem que se importa menos tem todo o poder. Ninguém quer ser “a pessoa mais interessada” da relação.
2. Porque nós sempre queremos mostrar para a outra pessoa o quão blasé nós podemos ser, joguinhos psicológicos como ‘Intencionalmente Levar Horas Ou Dias Para Responder Uma Mensagem’ vão acontecer. Eles não são divertidos.
3. Uma pessoa sendo desapegada porque tem zero interesse em você parece exatamente igual a uma pessoa sendo desapegada porque acha você incrível and está fazendo um esforço consciente para fingir que não está nem ai. Boa sorte tentando descobrir quem é quem.
4. Ligações telefônicas são uma arte em decadência. Muito provavelmente, grande parte da comunicação do seu relacionamento vai acontecer por texto, que é a forma de interação mais desapegada e impessoal que existe. Já pode ir criando intimidade com as opções de emoticon.
5. Planos com antecedência estão mortos. As pessoas tem opções e atualizações de última hora da localização dos seus amigos (ou outros potenciais romances) graças as mensagens e as redes sociais. Se você não é a prioridade, você vai ouvir um “Talvez” ou “A gente se fala” como resposta para o seu convite para uma saída e o(s) fator(es) decisivo(s) serão se a pessoa recebeu ou não ofertas mais divertidas/interessantes que você.
6. Aquele alguém que te magoou não vai automaticamente ter um karma ruim. Pelo menos não em um futuro imediato. Eu sei que parece nada menos que justo, mas às vezes as pessoas enganam e traem e continuam suas vidas alegremente enquanto a pessoa que eles deixaram para trás está em frangalhos.
7. A única diferença entre as suas ações serem consideradas românticas ou assustadoras  é o quão atraente a outra pessoa te acha. É isso, isso é tudo.
8. “Topa sair?” e “Vamos fazer alguma?” são frases vagas que provavelmente significam “vamos nos pegar” – e enquanto você provavelmente odeia receber uma dessas, elas são o jeito mais comum de convidar alguém pra passar algum tempo com você hoje em dia, e aparentemente elas chegaram pra ficar.
9. Algumas pessoas só querem te pegar e se você está procurando mais do que sexo, eles não vão te falar “Alow, acho que eu sou a pessoa errada pra você”. Pelo menos não antes de você liberar o tindolelê. Enquanto a decência humana é o ideal, a honestidade não é obrigatória.
10. A mensagem que você mandou chegou. Se ele não respondeu, pode ter certeza que não foi por causa do mau funcionamento das operadoras de celular.
11. Tantas pessoas tem medo de compromisso e de estar sério com alguém que continuam um relacionamento não-definido, que acaba confundindo as coisas e só funciona até não funcionar mais. Eu já disse várias vezes, e vou dizer de novo – “nós somos só amigos” é abrir a porta para uma traição que tecnicamente não era traição porque, hey, vocês não estavam juntos juntos.
12. As mídias sociais criam novas tentações e oportunidades para trair. As mensagens por inbox e opções para um flerte sutil (ex. curtir a foto alheia) não servem como desculpa ou prova de uma traição, mas eles certamente aumentam as chances disso acontecer.
13. Mídias sociais também podem criam a ilusão de que você tem opções, o que leva as pessoas a verem o Facebook como um menu de pessoas atraentes ao invés de um meio de manter contato com o s amigos e a família.
14. Você provavelmente não vai ver muito da personalidade genuína e sem filtros de alguém até que vocês estejam em um relacionamento. Geralmente as pessoas tem medo de mostrar como realmente são e parecerem disponíveis demais, ansiosos de mais, nerds demais, bonzinhos demais, seguros demais, não engraçados o suficiente, não bonitos o suficiente, não alguma outra pessoa o suficiente para serem acolhidos.
15.  Qualquer pessoa com quem você se envolver romanticamente, ou vocês vão ficar juntos para sempre, ou vão acabar terminando em algum momento. E ambos são conceitos são igualmente assustadores.
16. Quando vocês estiverem namorando, ao invés de expressar como se sente diretamente para você, é mais provável que a pessoa publique isso no status do Facebook ou Instagram, uma foto tipo Tumblr, de um por-do-sol com uma frase ou trecho de música com as palavras de outra pessoa, e enquanto pode nem mencionar seu nome, é claramente para você.
17. Tem muitas pessoas quem tem zero respeito pelo seu relacionamento e se eles quiserem a pessoa com quem você está, não terão escrúpulos na tentativa de ultrapassar os limites para conseguir conquistar a vítima. Girl Code e guy code são ilusões e código humano não é incorporado em todos.
18. Se você tomar um fora, provavelmente vai ser bem brutal. As pessoas podem cortar laços pelo telefone e evitar ter que ver as lágrimas rolando pelo seu rosto ou terminar tudo por mensagem e evitar ouvir a dor na sua voz e o seu nariz escorrendo. Envie um texto longo e voilá, o relacionamento acabou. O caminho mais fácil está longe de ser o mais atencioso.